Notícias de Belarus

Tropas do PMC Wagner em Rostov-on-Don / Fonte: Telegram
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por JOSÉ MACHADO MOITA NETO*

O desfecho dos acontecimentos envolvendo o chefe do grupo Wagner ainda não é claro

Comentar uma notícia de grande relevância internacional é um risco diário do jornalista que sabe que a formulação de opinião, sobre um cenário incerto, sofre o risco de ser desmentida em menos de 12 horas. Portanto, minha opinião pode sofrer de envelhecimento precoce antes que você tenha tempo de lê-la. Para fugir das fontes tradicionais da informação, procurei a BELTA, que é a agência de notícias e porta-voz do governo bielorrusso. Toda a construção narrativa do empenho de Alexander Lukashenko nas negociações é exagerada, mostrando um protagonismo ímpar durante a crise. De fato, ele foi escalado por Vladimir Putin para ofertar uma saída honrosa ao chefe do grupo Wagner que a aceitou; pois não tinha alternativa.

A leitura da agência de notícias de Belarus (https://www.belta.by/) fornece mais pistas sobre a negociação política que levou à suspensão do movimento. Num dos resumos de notícias é apresentado: “O presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, ajudou a superar com sucesso a fase mais aguda da situação na Rússia, associada à tentativa de rebelião militar do chefe do PMC Wagner, Yevgeny Prigozhin”. A abertura imediata do processo criminal pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia contra o chefe do grupo Wagner tornou-o alvo fácil dos militares, inclusive os seus seguidores foram chamados a não mais seguir o seu comando. Além disso, conforme a BELTA, “O Ministério da Defesa da Federação Russa classificou a situação com Yevgeny Prigozhin como uma rebelião armada”. Isto acabou com as opções de Yevgeny Prigozhin, obrigando-o a aceitar qualquer saída oferecida na negociação.

O objetivo dos rebeldes era pressionar Vladimir Putin para recolocá-los em cenário de relevante protagonismo na Ucrânia, mas para isto precisavam desqualificar os atuais comandantes militares. Os incidentes não marcaram o rompimento de Putin com o chefe do grupo Wagner, mas deixaram claro que a briga dele com os chefes militares não encontrou nenhum apoio em Putin. A decisão do alto-comando de enfraquecer o papel do grupo Wagner na Ucrânia teve o aval de Vladimir Putin. A necessidade de transmitir uma imagem de guerra limpa na Ucrânia passava pelo expurgo pacífico ou não do grupo Wagner. A obrigatoriedade de assinatura de contrato dos integrantes com o governo russo, a redução do apoio logístico ao grupo e, por fim, acidentes de “fogo amigo” provocaram a estratégia desesperada do grupo.

O que fizeram nunca chegou a ameaçar a segurança ou o governo do estado russo, como foram as primeiras leituras da mídia ocidental. Foi uma jogada política ousada que não funcionou. A declaração de Vladimir Putin de classificar o ato como traição foi a senha para que compreendessem que o chefe do grupo Wagner passou todos os limites. Era o fim das bravatas. A única solução possível era sair completa e rapidamente do cenário antes que o Ministério da Defesa e o estado-maior das forças armadas dessem fim à aquela “brincadeira” política. Em meio a uma guerra, não se pode tripudiar com os entes responsáveis por conduzi-la, mesmo aqueles que gozam da amizade do chefe maior das forças armadas.

O desfecho dos acontecimentos envolvendo o chefe do grupo Wagner ainda não é claro e a leitura que faço é que o mesmo foi colocado no freezer em Belarus para afastá-lo da Guerra da Ucrânia. De fato, a situação dele parece a de uma prisão domiciliar, uma espécie de prisioneiro da máscara de ferro; pois tem um potencial explosivo a favor ou contra Vladimir Putin. A ideia de Vladimir Putin é deixá-lo latente em ambiente monitorado para reativá-lo quando necessário. Ele tem muitas alternativas de fuga, nenhuma para os países da OTAN, mas em todos os cenários ele pode vir a ter o mesmo destino de outros desafetos do governo russo.

*José Machado Moita Neto é professor aposentado da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e pesquisador da UFDPar.

A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Luiz Eduardo Soares Yuri Martins-Fontes Otaviano Helene Heraldo Campos Paulo Sérgio Pinheiro Renato Dagnino Lucas Fiaschetti Estevez Eleonora Albano João Feres Júnior Maria Rita Kehl José Micaelson Lacerda Morais Eliziário Andrade Eugênio Bucci José Luís Fiori Vanderlei Tenório Michael Roberts Leonardo Avritzer Jean Marc Von Der Weid João Paulo Ayub Fonseca Juarez Guimarães José Raimundo Trindade Fábio Konder Comparato Francisco Pereira de Farias Daniel Brazil Luis Felipe Miguel Antonio Martins Elias Jabbour João Sette Whitaker Ferreira Benicio Viero Schmidt José Dirceu Andrés del Río José Costa Júnior Paulo Nogueira Batista Jr Flávio Aguiar Thomas Piketty Alexandre de Lima Castro Tranjan Marjorie C. Marona Ari Marcelo Solon Luiz Renato Martins João Lanari Bo João Carlos Loebens Érico Andrade Ronald León Núñez Ladislau Dowbor João Adolfo Hansen Luís Fernando Vitagliano Francisco de Oliveira Barros Júnior Gilberto Maringoni Liszt Vieira Marcelo Módolo Bento Prado Jr. Marcos Silva Daniel Afonso da Silva Vinício Carrilho Martinez André Márcio Neves Soares Julian Rodrigues Henry Burnett Berenice Bento Leda Maria Paulani Manuel Domingos Neto Luciano Nascimento Leonardo Boff Luiz Bernardo Pericás Tadeu Valadares Lincoln Secco Atilio A. Boron Marilia Pacheco Fiorillo Walnice Nogueira Galvão Ronaldo Tadeu de Souza Luiz Carlos Bresser-Pereira Eduardo Borges Caio Bugiato Salem Nasser Dênis de Moraes Everaldo de Oliveira Andrade Osvaldo Coggiola Bruno Fabricio Alcebino da Silva Ricardo Abramovay Chico Whitaker Flávio R. Kothe Marcos Aurélio da Silva Antônio Sales Rios Neto Eleutério F. S. Prado Jorge Luiz Souto Maior Luiz Werneck Vianna Celso Favaretto Anselm Jappe Remy José Fontana Celso Frederico Milton Pinheiro Carlos Tautz Vladimir Safatle Fernão Pessoa Ramos Plínio de Arruda Sampaio Jr. Paulo Martins José Geraldo Couto Mariarosaria Fabris Afrânio Catani Fernando Nogueira da Costa Daniel Costa Gerson Almeida Airton Paschoa Tarso Genro Luiz Marques Kátia Gerab Baggio Leonardo Sacramento Rubens Pinto Lyra Dennis Oliveira Sandra Bitencourt Antonino Infranca Valerio Arcary Jean Pierre Chauvin Marcus Ianoni Gilberto Lopes Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Alysson Leandro Mascaro Igor Felippe Santos Ronald Rocha Marcelo Guimarães Lima André Singer Ricardo Fabbrini Ricardo Musse Slavoj Žižek Alexandre Aragão de Albuquerque Gabriel Cohn Manchetômetro Henri Acselrad Rodrigo de Faria Chico Alencar Matheus Silveira de Souza Annateresa Fabris Claudio Katz Bruno Machado Andrew Korybko Sergio Amadeu da Silveira Bernardo Ricupero Lorenzo Vitral Samuel Kilsztajn Paulo Capel Narvai Rafael R. Ioris Valerio Arcary Michael Löwy Denilson Cordeiro Tales Ab'Sáber Ricardo Antunes José Machado Moita Neto Carla Teixeira Luiz Roberto Alves Francisco Fernandes Ladeira Marilena Chauí Priscila Figueiredo Jorge Branco Alexandre de Freitas Barbosa Mário Maestri João Carlos Salles Boaventura de Sousa Santos Michel Goulart da Silva Armando Boito Paulo Fernandes Silveira Eugênio Trivinho

NOVAS PUBLICAÇÕES